A doença desencadeada de acordo com o sentir

Frente ao exposto no texto anterior, já se pode certamente compreender, até mesmo com uma lógica, sobre o que é a doença, o programa biológico de sobrevivência. E agora trago um exemplo, considerado à luz das Leis Biológicas, que evidencia a linguagem do corpo, as metáforas apresentadas em forma de doença, mas trazendo a intenção positiva, a intenção biológica de sobrevivência, demonstrando que aquilo que a boca fala, o cérebro registra e o corpo mostra.

Então, supondo que uma mulher surpreende seu marido no flagra, na cama com outra mulher, o conflito pode ser vivido ou sentido de diferentes maneiras:

Faz-se um conflito de frustração sexual, no qual pergunta-se: por que mantém relações sexuais com ela e não comigo? Órgão alterado: colo do útero (ulceração na fase de Conflito Ativo – C.A., e regeneração do tecido ulcerado na Fase de Resolução – P.C.L.).

Ou um conflito de desvalorização, em que diz a si mesma: contra esta mulher jovem não tenho nenhuma oportunidade! Órgão alterado/doença: vértebras lombares, ossos da pélvis ou sífilis (necrose óssea na fase – C.A. e recalcificação óssea na fase – P.C.L.

Ou um conflito de medo/asco. Se for uma prostituta, pergunta-se: por que foi para a cama com esta vagabunda? No nível orgânico, manifesta-se como uma hipoglicemia (ilhotas alfa do pâncreas e fígado).

Ou um conflito de marcação de território, no qual pergunta-se: e agora qual será o meu lugar? No nível orgânico, manifesta-se com uma ulceração da bexiga (C.A.) e na fase de solução (P.C.L. , regeneração do tecido ulcerado com uma inflamação da bexiga.

Ou se não ama o seu marido, ou inclusive tem um amante, não tem nenhum disparador de conflito.

Tudo depende de como vive essa situação conflituosa, singularmente, daí o sistema biológico de sobrevivência, desencadeado para poder ser diferente para cada um, mas sempre com um sentido biológico muito determinado.

Pois bem, exemplos comuns foram relacionados anteriormente, o que acredito que possa traduzir a importância de se olhar para a doença por um outro prisma e considerar a relevância de se conhecer sobre o funcionamento do corpo, sua linguagem e suas metáforas, que este depósito de memórias usa para nos falar e para ousarmos atuar no contexto da saúde.

Também desejo que essa escrita tenha favorecido um novo olhar para a doença, acolhendo-a e agradecendo sobre o que ela tem a dizer. Qual a metáfora que o corpo está contando para escutar este grito da alma chamando para despertar para a vida? Tomar a vida!

 Assim, concluo este passeio com Nietzsche dizendo “Não gostaria de despedir-me ingratamente daquele tempo de severa enfermidade, cujo benefício ainda hoje não se esgotou para mim: assim como estou plenamente cônscio das vantagens que a minha instável saúde me dá, em relação a todos os robustos de espírito” – Nietzsche, Gaia Ciência, prólogo §3.

Referências bibliográficas

Este material foi construído com pesquisas e anotações próprias coletadas em cursos e workshops, também dos seus estudos para o título de “Mestre em Psicologia – Doenças Psicossomáticas”, apostilas de vários cursos dentro do tema.

  • Champetier de Ribes, Brigitte, Constelar La Enfermidade desde las comprensiones de Hellinger y Hamer – Gaia Ediciones, Espanha, 2011
  • Champetier de Ribes, Brigitte, Empezar a Constelar – Gaia Ediciones, Espanha
  • Champetier de Ribes, Brigitte, Las Fuerzas del Amor – Las nuevas Constelaciones familiares, Gaia Ediciones, Espanha, 2017
  • Dethlefsen ,Thorward e Dahlke, Rüdger – A Doença Como Caminho – Ed. Cultrix – 1983
  • Flèche, Christian, Biodecodage – “Tratar a origem emocional de todos os sintomas”-  São Paulo : Andreoli, 2020
  • Flèche, Christian – El Cuerpo como Herramienta de Curacion – Ed. Obelisco
  • Hamer, R. G. Sumary of the New Nedicine – Amici di Dirk. Ediciones de la Nueva Medicina S.L., E-Fuergirola, Spain, 2000.
  • Hausner S. – Constelações Familiares e o Caminho da Cura – Ed.; Cultrix – 2010
  • Hellinger, Bert, A Leis da Cura – Estar bem e continuar bem, Ed Marcador, Lisboa 2020
  • Levita, Sara Gloria – Sanar en el alma, curar em el cuorpo – salut, sintomas y enfermidades en las constelaciones familiares- Buenos Aires -: Ediciones B, 2015
  • Mambrelli, Giorgio y Seraphin, Jean , La Medicina Patas Arriba – Ed. Obelisco, Argentina
  • Pellizzari, Pierre, Me há tratado com La Nueva Medicina Del Doctor Hame, Ed. Obelisco, Argentina
  • Rüdger Dahlke, A Doença como Linguagem da Alma – Ed. Cultrix – 1992
  • Rupert Sheldrake, Una Nueva ciência de la Vida, Editorial Kairós, 1981
  • Simonton, O. C., Com a vida de novo, – Ed.  Summus, 1987.

Se não leu, te convido a ler os textos anteriores que fazem parte desta série:

A doença é um grito da alma que chama para a vida

As doenças sob a ótica das constelações sistêmicas

Entender a doença para compreender a vida

Olhando para as doenças: casos concretos


Olhando para as doenças: casos concretos

As doenças sob a ótica das constelaçõesNo texto anterior, você compreendeu melhor as dinâmicas das doenças e, agora, podemos olhar para casos concretos e, quem sabe, também curar a alma e tomar a vida com mais força. Portanto, aqui, apresento conteúdos biológicos segundo Dr. Hamer, e sistêmicos, no olhar de Hellinger.

Olhamos, então, para uma decodificação baseada na biologia, acima de tudo, na função dos órgãos dentro da organização do ser vivo e suas necessidades de adaptação.

Assim, frente a um órgão doente, a primeira pergunta que devemos fazer é sobre a sua função biológica. Se desejamos entender o significado de uma doença da pele, devemos entender que a função da derme é proteger-nos do mundo exterior; o fígado, entre outras, tem a função de armazenar o glicogênio necessário ao organismo. Assim, se eu for agredido, a minha pele fica mais espessa; se eu for privado de alimento, meu fígado aumenta para armazenar reservas. Tudo é reação de adaptação vital.

Dessa forma, entender o que chamamos de doença é compreender a vida e, a constelação familiar revela a complexidade de uma doença que sobrecarrega a família há gerações. Ela nos mostra os passos necessários para que a recuperação da saúde seja sustentável.

Vejamos dois exemplos e suas considerações, integrando Hamer e Hellinger:

ORGÃOLEIS BIOLÓGICASCONSTELAÇÃO SISTÊMICA
Útero - endometriose1ª capa embrionária. Conflito de sobrevivência, reprodução.
Sentido biológico: tem que conceber a todo custo. Não há conceito de primeira casa e não se pode conceber nela (por memórias de aborto, por exemplo), então a mucosa do útero migra. Está relacionado com a marcação de território de um lugar para “construir a primeira casa”, com a intenção de conceber rapidamente.
Conflito: relacionado com a mãe. Medo de não ser uma boa mãe. Medo das consequências de um parto. Desejo de estar grávida, mas não tem capacidade para receber o bebê em um bom lugar, para tanto, o recebo em outro. Sensação de que a casa não é nossa. Medo de ter um bebê no útero, provavelmente por memórias de aborto.
Interior: foi um problema com crianças que morreram por não terem uma casa.
Exterior: conflito de localização, devo buscar outro lugar.
No ovário: nidação rápida.
Na bexiga: necessidade de marcar território, e morar onde nascerá o bebê.
Adenomiose uterina: incapacidade para levar a um bom fim a gestação.
Este tipo de sintoma ou doença não se relaciona somente com transtorno da própria sexualidade, se não, que no âmago pode haver implicações transgeracionais e outras desordens dentro do sistema que podem gerá-las: bebês que foram excluídos, por exemplo, por mortes prematuras, bebês não nascidos, filhos ou irmãos que não chegaram a tomar a vida e que desta forma pedem a sua reinserção no sistema familiar.
Pulmões1ª e 4ª camada embrionária
Conflito de um bocado de ar, medo de morrer – a morte em mim ou próxima de mim.Conflito de ameaça no território (brônquios). Simpaticotonia: em fase de conflito ativo de 1ª capa produz tumor (adenocarcinoma). Em fase de conflito ativo de 4ª capa embrionária produz ulceração de epitélio escamoso.
Vagotonia: em fase de reparação de conflito de 1ª capa aparece a tuberculoso pulmonar e o tumor em degradação pelas bactérias. No lugar do adenocarcinoma aparecem crateras (enfisema pulmonar). Na 4ª capa regenera a área ulcerada e aparecem edemas que podem provocar tosse. Pode aparecer bronquite ou pneumonia e, nesses casos, pode ser fatal e dar lugar a um carcinoma bronquial. Na crise epileptoide da 4ª capa pode ocasionar perda de memória.
Sentido biológico: a principal função dos pulmões é a respiração. Absorver vida (ar, oxigênio). A respiração nos põe em contato com o mesmo elemento. Todos respiramos o mesmo ar, coisa que nos mantém conectados. Por isso, os pulmões representam a capacidade de compreender e inspirar a vida e, às vezes, simbolizam o contato, a comunicação com o entorno. Na medicina chinesa, corresponde à tristeza.
Conflito: em geral de medo da morte. Conflito de medo arcaico de afogar-se (simbólico quando desaparecem minhas razões de viver). Também conflito de território pessoal (medo de perder-se no próprio território).
Embolia pulmonar: crise epileptoide de um conflito de veias coronárias e de colo uterino.
Uma mancha: medo que o outro morra.
Várias manchas soltas: medo por si mesmo.
Várias manchas no alto e menores na parte baixa: medo de sofrer ou morrer.
Micro nódulos em pulmão esquerdo: necessito de território para meus filhos. Exemplo: uma mulher casada três vezes, cujo terceiro marido não aceita seus filhos do casamento anterior.
Brônquios: briga no território, invasão de território.
Alvéolos: lugar onde há troca gasosa entre ar e sangue.
1ª capa embrionária, conflito de pedaço, medo de morrer.
Simpaticotonia: em fase de conflito ativo produz tumor – adenocarcinoma.
Vagotonia: fase de reparação do conflito, na qual aparece tuberculose pulmonar e o tumor é degradado por bactérias; no lugar do adenocarcinoma aparecem crateras, o enfisema pulmonar.
Sentido biológico: os alvéolos têm a função de absorver o oxigênio e o sentido biológico de aumentar/fabricar mais alvéolos é garantir maior capacidade de retenção do oxigênio. O sentido geral sempre é de maior opção de busca para sobreviver a uma ameaça de morte por asfixia – medo de morrer asfixiado.
Conflito: ligado ao alvéolo, o maior conflito é o medo de morrer, o medo da morte. Frequentemente por um impacto de um diagnóstico, por exemplo, de um câncer terminal. O medo mais arcaico dos medos está ligado à sensação de desaparecer, de perder o todo. Para a biologia, a morte é só uma mudança; para o ego, é um conflito de desaparecer
A respiração é o ato de trocar gases entre o interior e o exterior.
Na Índia chamam de prana, que é a energia vital, por isso, diziam que os tuberculosos eram os melancólicos.
Sintomas ou doenças ligadas ao aparato respiratório levam-nos a questionar sobre o quanto se assimilou da vida ou o quanto tomou a vida. Pois o fato de receber a vida não implica em tê-la tomado.
Nas constelações, uma das razões pela qual não se toma a vida – além das implicações por lealdades invisíveis – tem a ver com histórias de movimentos de amor interrompido. Isso acontece quando, por alguma razão, o amor com os pais se interrompeu em uma idade muito jovem – criança – ou por um tempo, como numa internação, separação, doença ou ausências por qualquer motivo. Também pode ser por sentimento de exclusão, de rechaço que sem ser uma separação física deixa marcas no plano da alma.
As enfermidades respiratórias estão entre as mais comuns e rotineiras com as quais a gente convive e que, e podem levar à morte.

No próximo texto, vamos compreender as situações que podem desencadear doenças. Aguarde!


Entender a doença para compreender a vida

Agora que você já sabe sobre as fases da doença, vamos olhar para alguns sintomas e dinâmicas observadas nas constelações? Vamos entender a doença para compreender a vida.

Ter saúde significa muito mais do que não apresentar nenhuma doença física.” Johnny De Carli

Nosso corpo é um depósito de memórias. Ele conta a história. É o resultado de todas as experiências, emoções, traumas e dores vivenciadas ao longo da nossa vida, desde o nosso nascimento. Tanto os lembrados como os não lembrados. E também nos habita a história que nossos ancestrais viveram ao longo das gerações. Levamos conosco os registros dos ocorridos e, mesmo que nos separemos da família de origem, levamos junto, e isso nos condiciona, nos determina em silêncio, no nosso interior. E essas informações se mostram, na superfície, nas mais variadas e impensadas maneiras.

Daí a importância de aprendermos a conhecer e, sobretudo, escutar o corpo. Porque ele fala e somos falados por ele. E nessa expressão se manifestam sintomas múltiplos, indo até a enfermidade, e o que vem à luz é aquilo que carregamos, muitas vezes, sem saber.

O que é calado na primeira geração, a segunda leva no corpo!” Françoise Dolto

A doença traz a mensagem, e o caminho da cura só pode ser transitado através de um trabalho interior, buscando decifrar o que é que nos vem sendo dito, de que se trata e o que necessita ser escutado.

E as constelações familiares são uma das ferramentas de mudança neste contexto. Não é nada mágico. Não curam nem resolvem por si só para ninguém. É um recurso para iniciar uma visão sobre nós mesmo e sobre nossa vida, e essa mudança é de responsabilidade do indivíduo. Só ele tem o problema e a solução dentro dele.

Também não substituem nem se opõem ao que a ciência médica tem ofertado. E o fantástico é que, ao mesmo tempo, a ciência médica começa a se abrir ao olhar sistêmico e transgeracional na hora de tratar sintomas e enfermidades.

“A medicina do corpo está prestando atenção nas compreensões sobre os efeitos e dos campos espirituais em relação às razões de fundo de muitas doenças.” Bert Hellinger

Então, conhecer e compreender nossa história pessoal como o resultado de uma história ancestral, é nosso direito. Um novo olhar pode iluminar uma nova verdade.

E, retomando a lei da pertinência, do direito de pertencer, a exclusão ou a falta de reconhecimento de uma parte do sistema pode ser a origem de uma diversidade de problemas e travas na vida: desde o simples obstáculo e doenças menores ou maiores, enfermidades, até tragédias que se repetem sem que a mente possa dar uma explicação lógica. A transgressão dessa lei sempre aparece em enfermidades, o que não exclui que as demais também podem fazê-lo ou não são tão importantes. Mas no caso de uma doença ou transtorno físico, a pergunta que deve ser feita é relacionada a quem falta, ou que falta é primordial.

Só quando um sabe onde está preso, pode avançar com segurança e força para onde quer estar e o que quer fazer. Muitas vezes a exclusão afeta a ordem.

Assim, para melhor compreender e navegar, experimentando, neste oceano de informações, vamos falar um pouco de sintomas, enfermidades e suas dinâmicas.

Sintomas, enfermidades e suas dinâmicas

O que se nota é que nas constelações que tratam de temas de sintomas e doenças, as dinâmicas que mais se apresentam são: “Eu te sigo”, “Eu em seu lugar” e “Eu também”.

O “Eu te sigo” ocorre, habitualmente, quando a mãe ou o pai morre, numa idade muito pequena do filho. É assim que o amor profundo que os unifica é exposto, e que acompanha toda a vida desse filho, mesmo que ele já esteja adulto. Então, internamente o filho pode dizer “te sigo”, já que deseja morrer também, seja adoecendo ou em um acidente. Também quando uma mãe que perde o filho e logo depois desenvolve um câncer de mama e segue o filho; ou num casal que quando um morre, pouco tempo depois o outro sofre um infarto e segue o companheiro. Em todos os casos, com essa dinâmica termina a angústia da separação.

“Eu faço em seu lugar” ocorre quando um integrante do sistema adota um destino que não é seu e adoece ou morre em lugar do outro. E essa é a causa que mais condiciona a nossa saúde.

Nesta dinâmica, quem diz “Eu faço por você”, por um lado, são os filhos com a intenção de salvar um dos pais; nos casais, quando por amor, adotam e levam como próprio o que pertence ao outro; ou um descendente que carrega a carga e o destino de um ancestral.

A dinâmica “Eu também” é comum quando há um irmão abortado, um gêmeo falecido; o que sobrevive diz ao outro “querido irmão, como você não pode tomar a vida, eu também vou”. Nesses casos, a expiação se dá quando os vivos se sentem culpados por viver, frente a outros que morreram.

Os mortos não querem expiação, senão respeito… o que cura é o respeito. A reverência é uma expressão desse respeito. E o pedido de bênção é uma expressão desse respeito”. Bert Hellinger

Vamos entender, no próximo texto, alguns casos práticos? Confira aqui